O aperfeiçoamento da legislação sobre o serviço doméstico é uma conquista inigualável que assegura a dignidade das pessoas que saem da sua própria residência para o exercício de sua profissão na de outrem, com a responsabilidade de quem, de alguma forma, se insere no contexto privativo do local de trabalho. O aspecto afetivo não pode isentar o cultivo dos parâmetros profissionais.
Cada atividade humana possui seu encanto. Há, porém, no rol dos afazeres, os que trazem peculiar afeição, entre os quais, podíamos destacar o trabalho doméstico. É no interior dos lares que vêm à tona a espontaneidade e a transparência da vida. A faina diária elege o ambiente familiar como espaço privilegiado para recomposição das energias e para a harmonização existencial.
Os altares barrocos das igrejas históricas, com sua catequese iconoclasta, expõem a imagem da Padroeira das Domésticas. Os arquivos paroquiais dão conta da existência da Associação de Santa Zita, descrevendo épocas em que ficara inativa e reflorescendo com viço noutras, inclusive na atualidade.
Por que Santa Zita é a Patrona destes/as trabalhadores/as Domésticos/as? Afinal, quem foi, então, Santa Zita? Natural de Montesegradi, Itália, filha de pais pobres, honestos e piedosos, nasceu Zita em 1212 e, graças à sólida educação que recebeu na casa paterna, bem cedo seguiu o caminho da virtude e da perfeição cristã. Graças à sua mansidão e modéstia, Zita era uma menina querida de todos. Dada ao recolhimento e ao trabalho, aos doze anos empregou-se na casa de uma família nobre, residente perto da Igreja de São Fridigiano, na cidade de Luca. Bem cedo, antes dos outros se levantarem, Zita participava da Santa Missa. Durante quarenta e oito anos Zita trabalhou naquela casa. Não perdia a Missa, nem se atrasava em suas obrigações. Sempre a mesma pontualidade e dedicação. Ela costumava dizer que são quatro as qualidades que não podem faltar em uma doméstica: “temor de Deus, obediência, fidelidade e amor ao trabalho”. Seus biógrafos atestam que ela possuía estas qualidades em seu mais alto grau. Zita se destacava pela paciência e bom humor. O tempo que lhe restava, ela o preenchia com orações e boa leitura. Adotava as práticas penitenciais da época com abnegação e grande virtude. Sua prática sacramental era edificante. Em sua presença ninguém ousava falar mal do próximo. As vítimas da maledicência tinham em Zita uma defensora certa. Sabia partilhar a vida e os dons. Com os pobres, distribuía a comida e o salário que recebia. Vasta é a descrição de sua preciosa história. Seu corpo não conheceu a decomposição. Canonizada pelo Papa Inocêncio XII, sua festa litúrgica é celebrada a 27 de abril, data de sua morte/entrada no céu, ocasião em que se eleva esta especial prece: “Ó gloriosa Santa Zita, que soubestes aliar o trabalho à oração, integrando os exemplos de Maria e de Marta, do Senhor alcançai-nos esta ciência divina: a santificação do trabalho pela fé. Uma Fé viva que me ensine a ver nas pessoas e em seus atos a Mão carinhosa da Providência que, pelo Calvário e pela Cruz, me quer conduzir ao triunfo da Ressurreição. Assim seja”.
Na região central de Belo Horizonte, funciona há décadas a Casa Santa Zita, fundada para acolher as Domésticas que saíram do interior para viver na Capital, trabalhando em casas de família. Com a aposentadoria, encontram ali a acolhida que as faz se sentirem em casa. Muitas passam a viver ali até o fim de suas vidas.
Sob o sodalício da Pastoral das Domésticas, a Associação de Santa Zita é um eficiente mecanismo de resgate da cidadania e de agremiação, banco de emprego e outros benefícios vigentes em tantas Paróquias, fortalecendo a vida comunitária e preservando a valorização do SERVIÇO DOMÉSTICO.
Padre Paulo Dionê Quintão
Pároco de Santa Rita de Cássia em Viçosa, MG